15 49.0138 8.38624 1 1 4000 1 https://dicasdacamillinha.com.br 300 true 0

Presa na fronteira entre Bolívia e Chile (Pisiga/Colchane)

1 Comentário

Neste dia, resolvi compartilhar com vocês a experiência mais traumatizante que tive na Bolívia: um dia na fronteira de Pisiga/Colchane entre a Bolívia e o Chile. Minha viagem pela Bolívia foi incrível, se você quer conhecer um pedacinho desse outro lado da Bolívia, leia Um Outro Ângulo da Bolívia. Contudo, apesar das belas paisagens que vi e pessoas legais que conheci, minha saída do país foi um pouco complicada e estressante.

A história do início

Após o passeio de três dias em Uyuni, retornamos à cidade. O próximo destino do nosso roteiro era Iquique, no Chile. Após nos informarmos sobre horários e valores, descobrimos que não havia ônibus direto para lá. Precisaríamos comprar uma passagem até Oruro para, de lá, pegarmos outro ônibus para Iquique. Até aí tudo bem. Jantamos com calma, usamos o Wi-fi do restaurante, compramos as passagens e partimos no ônibus das 21h.

Chegamos em Oruro por volta de 1h30min. Procuramos um ônibus para Iquique, compramos a passagem que custou BOL80 (80 bolivianos) – se liga no preço, porque, mais para frente, vai fazer sentido). O ônibus sairia às 2h30min. E, segundo a senhora que nos vendeu a passagem, a previsão de chegada em Iquique era às 10h. Aceitável. Com o cansaço que eu estava, dormiria em qualquer lugar.

Eu simplesmente entrei no ônibus e apaguei, não vi nem que horas ele saiu. Acordei às 6h quando ele parou em Pisiga e desligou o motor. Estava de manhãzinha e muito frio. Todos os demais passageiros estavam descendo do ônibus e pegando suas bagagens – bom, antes da viagem, eu tinha visto que muitos bolivianos atravessam a fronteira ilegalmente, pensei que fosse isso. Descemos também, porém eu ainda não havia entendido o que estava acontecendo. A paisagem era linda. Estávamos no Altiplano Andino e, no horizonte, não muito longe, estavam os picos de algumas montanhas cobertos por uma camada fina de neve. Tinha uma fila quilométrica – literalmente – de ônibus à nossa frente, sem contar a fila de caminhões paralela à nossa.

Conversando com o motorista, um chileno e um homem que trabalhava na aduana da Bolívia, descobri que iria demorar. Por conta do verão, milhares de bolivianos estavam indo às praias chilenas. Então, tive minha primeira e brilhante ideia: “Vamos atravessar a fronteira andando e pegamos um ônibus de Colchane, no lado chileno da fronteira, à Iquique”. Quando a fronteira abriu às 8h, descobri que quem atravessava andando, entrava ilegal. O único jeito de passar pela fronteira para eles darem baixa em seus documentos é dentro de algum veículo, seja ônibus ou caminhão.

Ok. Tive minha segunda brilhante ideia, baseada nos conselhos dos outros, que conheci durante aquela manhã: “Vamos procurar algum ônibus que está mais perto de entrar na fronteira e comprar outras passagens neles, porque não deve ser muito caro”. O primeiro ônibus que perguntei estava lotado, o segundo custava BOL$200. Andei e perguntei até encontrar um que fosse BOL$100. Achei caro. Pois é, minha gente. A passagem da fronteira à Iquique é mais cara que de Oruro à Iquique. Achei um absurdo.

Daí, entra o primeiro agravante da história. Como nosso plano era chegar em Iquique pela manhã, não havíamos mais trocado dinheiro boliviano. O que tínhamos dava para comer e, quem sabe, pagar uma estadia em hostel, mas não era o suficiente para comprar uma passagem para Iquique. O segundo agravante é que na cidadezinha, Pisiga, não havia onde trocar reais em bolivianos, nem caixa eletrônico ATM para fazer saque. O jeito era voltar para dentro do nosso ônibus e esperar.

Nessa de esperar, entra o terceiro agravante. Como já estávamos de saída do Bolívia, a internet que havíamos comprado já tinha estourado. Então, fomos procurar um lugar para colocar crédito, fácil. O problema, minha gente, é que nenhum lugar vendia créditos. Eles só vendiam novos chips, o que não seria uma má ideia. Entretanto, quando compramos nossos primeiros chips de operadoras bolivianas, tivemos problemas para fazer a ativação. Eu mesma precisei ir pessoalmente a uma loja da Tigo para resolver isso. Portanto, no final das contas, era sem internet.

 À espera de um milagre

Esparramada em duas poltronas do ônibus, jogar no celular já tinha ficado tediante. De repente, o motorista abre a porta que dá acesso aos passageiros e começa a conversar com a gente. Ele disse que, muito provavelmente, não atravessaríamos. Iríamos ter que dormir por ali mesmo. Falou que na ordem dos ônibus éramos o número 87 – e, mais para frente, descobrimos que era 37 –… Ele queria que a gente descesse e fosse embora em outro ônibus. Bem que queríamos, mas não tínhamos dinheiro.

 Resolvi dormir. Quando acordei, umas 11h, pensei: “Por que não contar os ônibus que estão à frente?!”. Contei. Eram 16. Essa se tornou a meu maior passatempo do dia. A cada hora, eu descia e contava. No início da tarde, chegamos à décima posição. Em algumas horas, chegamos a ser o quinto ônibus. Isso me deu esperanças de passar ainda naquele dia. A fronteira fechava às 19h30. Então, tínhamos chances de entrar no Chile.

A postura do motorista em continuar nos desencorajando a continuar esperando – como se tivéssemos outra opção –, nos irritou. Nós achamos que eles tinham dois motivos para nos fazer descer do ônibus: o primeiro é que eles poderiam voltar para Oruro e o segundo é que, se a gente não descesse, eles não poderiam revender nossos assentos por BOL100 cada e ganhar BOL400. E, no calor do momento, chamamos a Bolívia de país de “merda”. Peço, publicamente, desculpas aos bolivianos por isso.

Quando estava perto das 19h, algumas pessoas começaram a comprar passagem em nosso ônibus. Achei que isso seria um bom sinal. Mas, ainda não tínhamos uma certeza. Até que, alguns minutos depois, o motorista nos informou que conseguiríamos entrar no Chile naquela noite. Seríamos o último ônibus a passar. Comemoramos com suco de pêssego e alguns cookies que compramos durante à tarde.

Xixi em dois países ao mesmo tempo

Essa história é boa. Entramos na aduana a tempo de passar. Os ônibus que entram, passam naquele dia. Entretanto, é preciso ainda esperar os veículos que estão na frente. Tinham uns cinco na nossa frente. Às 19h30, o portão da fronteira fechou, cortando nosso contato com a Bolívia, mas sem entrar no Chile.

Quando deu umas 22h, eu fiquei com vontade de ir ao banheiro. Andei, andei e não achei nenhum banheiro disponível para as pessoas que esperam. O espírito boliviano já estava dentro de mim. E, como urinar no mato não é nenhuma novidade por lá, chamei minha irmã, peguei meu papel higiênico e fomos procurar uma moita da vegetação rasteira andina. Ao escolher a moita ideal, ela segurou o casaco atrás de mim e me aliviei em poucos segundos.

E foi assim que urinei numa fronteira, ou seja, em dois países ao mesmo tempo.

20 horas depois

Saímos da aduana por volta das 23h. chegamos em Iquique umas 3h sem reserva de hostel e sem internet… Bom, mas essa aventura fica para outro post.

Que dia, meus amigos. Que perrengue você já passou em suas viagens? Conta aí nos comentários 🙂

Post anterior
Um outro ângulo da Bolívia
Próximo post
Como fazer um roteiro top para sua viagem

1 Comentário

  • 22 de março de 2022 às 19:22
    Isabella

    Oi legal seu post eu gostei muito de saber sobre essa viajem pena que sempre acontece uns perrengues mas bom saber que vc atravessou pois agora nem ônibus pra lá tem então esta complicado ir por Prisiga.

    Responder

Deixe uma resposta