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Itaewon Class: vingança traz felicidade?

2 Comentários

Itaewon Class é um dorama coreano baseado em um webtoon, ou seja, uma história em quadrinhos distribuída na internet. Eu fiquei muito feliz quando descobri isso e logo fui procurar para ler. Mas, como alegria de pobre dura pouco, mais da metade da história ainda não está traduzida para o inglês ou português. Caro leitor, se você é fluente em coreano, eu peço encarecidamente que você faça esse favor para a sociedade. 

Não faz muito tempo que Itaewon foi lançada na Netflix. A série alcançou terceiro lugar do ranking de audiência da JTBC (canal de televisão sul-coreano que transmitiu a série), ficando atrás de O Mundo dos Casados (The World of the Married) e Sky Castle – outros dramas que fizeram muito sucesso no canal foram Strong Girl Bong-Soon e Something in the Rain. Mas Itaewon Class não fez sucesso só na Coreia do Sul, o dorama tem gerado bastante burburinho aqui no Brasil. 

Eu acredito que a razão para todo esse sucesso tenha sido a ideia disruptível da narrativa. O enredo foge dos clichês dos dramas coreanos e traz uma forte carga de reflexão sobre a sociedade e relações humanas. Vingança, empreendedorismo, transexualidade e questões raciais são alguns dos temas abordados em Itaewon Class. E eu nunca tinha visto nada disso ser abordado antes. Talvez existam outras séries com esse perfil, mas não conheço – se você souber, indique aí nos comentários. 

O roteiro impecável de Gwang Jin, o mesmo escritor do webtoon, com a direção de Kim Sung-yoon e a atuação de Park Seo-joon fizeram o drama ficar incrível. Leia minhas considerações sobre Itaewon Class. 

Sinopse de Itaewon Class

Estimulado pelo ódio, Park Saeroyi (Park Seo-joon) passa anos planejando sua vingança contra uma família poderosa, dona de uma das empresas mais sólidas da Coreia do Sul, a Jangga. 

A história começa quando Saeroyi e seu pai se mudam de Seul para o interior por causa do trabalho. Saeroyi, aluno do ensino médio, no primeiro dia de aula, vai defender um colega que sofre bullying e acaba arranjando uma confusão com Jang Geun-won, filho do chefe de seu pai. Ele é expulso da escola e seu pai pede demissão. Juntos, eles abrem um pequeno restaurante na cidade. Nesse meio tempo, ele conhece Oh Soo-ah, uma garota órfã, apadrinhada pelo pai de Saeroyi. Os dois criam uma certa amizade e o garoto acaba se apaixonando por ela.

Estava tudo certo até que, em uma noite, Jang Geun-won atropela e mata o pai de Saeroyi. Quando descobre a verdade, Saeroyi tenta matar Geun-won e acaba preso. A partir de então, estimulado pelo o ódio e desejo de vingança, Saeroyi planeja destruir a Jangga, desmascarar a corrupção do senhor Jang e punir Geun-won pela morte de seu pai. 

Dentro dessa jornada, ele conhece pessoas incríveis, como Jo Yi-seo (Kim Da-mi), Ma Hyun-yi (Lee Joo-young), Choi Seung-kwon (Ryu Kyung-soo) e Kim Toni (Chris Lyon).

Até aqui não tem spoilers. Se você ainda não assistiu a Itaewon Class, faça isso antes de continuar a leitura. 

Perspectiva masculina 

O primeiro ponto que eu quero abordar é que eu ainda não tinha visto uma série coreana sob a perspectiva masculina. Acredito que a perspectiva masculina deve aparecer em outros gêneros, como ação, suspense e terror – eu, particularmente, não vejo muito -, mas não é tão comum de se ver no gênero drama. 

Outro ponto interessante que eu observei – que apesar de não ter muito a ver com este tópico, vou comentar aqui mesmo – é a ausência de figuras paternas. Os personagens do “bem” não têm pai – preste bem atenção nas aspas. O único pai é o Jang Dae-hee, o antagonista. Eu sei que o pai do Saeroyi aparece e o detetive tem uma filhinha, mas um morre e o outro tem um papel muito secundário. 

Vingança e Felicidade

A injustiça foi o combustível para o sucesso de Saeroyi. A morte de seu pai, a impunidade e as provocações dos senhor Jang deram força para o protagonista planejar ações que dessem sentido à sua vida. 

Entretanto, essa sede de destruir a Jangga afasta pessoas da vida de Saeroyi. A primeira é Soo-ah, o primeiro amor dele. Ela trabalha na Jangga e, apesar de sua amizade com Park, acaba fazendo coisas que podem prejudicá-lo. Mesmo assim, ele continua fiel aos seus sentimentos. Ele prometeu que a namoraria quando alcançasse seus objetivos, mas, de alguma forma, ela acabou se cansando. Afinal foram mais de 10 anos de espera. Confesso que as atitudes dessa personagem me incomodaram um pouco. No início, eu até torci para que ela e Saeroyi ficassem juntos, mas ela não passava sentimento, nem confiança. Não sei se ela era assim mesmo ou se a atriz não conseguiu atender às expectativas. 

Outra pessoa que se afastou de Saeroyi foi o filho mais novo do senhor Jang, o Jang Geun-soo. Ele não queria nada do pai e, ao tomar conhecimento das histórias do passado, ficou do lado de Saeroyi. Só que chegou um momento que ele parou de ver sentido na sede de vingança. E motivado pelo que Jo Yi-seo disse para ele sobre herdar a Jangga, ele decidiu mudar de lado e tornou-se um idiota.

Após conseguir o que queria, Saeroyi ainda sentia um vazio. Ou seja, seu plano deu certo, mas aquilo não trouxe o prazer e a paz que ele pensava que traria. Ele só teve sua felicidade completa quando se sentiu amado e viu-se capaz de amar outra pessoa. Eu não gostava muito da Yi-seo nos primeiros episódios. Mas, depois que ela meteu a mão na boca da Soo-ah para que ela não baijasse Saeroyi, ganhou meu respeito. 

Transexualidade 

A transexualidade é certamente um tema muito delicado de ser abordado em séries de televisão. A gente acompanhou pela Netflix, mas a Coreia viu pela TV. Então, acredito que isso tenha gerado muito discussão por lá. A transexualidade é algo que aparece muito pouco em séries e filmes, pois ainda é considerado um tabu para as sociedades conservadoras. 

Uma série coreana de drama apresentar uma personagem trans “forte como um diamante” foi algo que considero inovador. Nos doramas, a gente sempre vê pessoas cheias de preconceitos com órfãs, divorciados, pais solteiros e homossexuais. Assistir a uma comunidade que apoia alguém no processo de mudança de sexo foi algo inesperado. 

Uma cena que marca a história de Ma Hyun-yi, personagem interpretada pela atriz Lee Joo-young, é quando ela assume sua sexualidade em rede nacional e, mesmo assim, consegue ganhar o concurso de Melhor Bar do país. Provando que pessoas são pessoas e que a opção sexual, por mais que muitos não concordem, não muda as qualidades e os talentos de alguém. 

Paradigmas raciais 

Lembro que, há alguns meses, eu estava vendo um vídeo no Youtube de uma menina que só fala de Coreia. No vídeo, ela comentou sobre um namorado que ela teve quando morava no país e como o relacionamento foi mal visto pela família e os absurdos que ouviu da mãe do garoto só por ela ser estrangeira. Pelo o que leio e vejo, eles são bem fechados nesse sentido de não se relacionar ou casar com estrangeiros. 

Além disso, estrangeiros nunca serão tratados como cidadãos. Sempre haverá uma diferença no tratamento, mesmo que a pessoa fale coreano perfeitamente. As oportunidades de emprego e relacionamentos são prejudicadas e, dificilmente, um estrangeiro ou meio coreano fará parte da sociedade, principalmente, se for do ocidente. 

Toni é um jovem, negro, natural da Uganda. Ele é filho de um coreano e de uma africana. Toni foi para a Coreia do Sul atrás de seu pai e parentes asiáticos. Por ser negro, as pessoas logo deduziram que ele era americano e falava inglês. Apesar de conviver com pessoas de “mente aberta” e frequentar o bairro mais descolado de Seul, ele foi ridicularizado pelas pessoas não acreditarem que seu pai era coreano e foi impedido de entrar em uma boate.

Para mim, ter um personagem negro e coreano é algo muuuuito diferente. Eu já tinha visto estrangeiros em doramas, mas sempre aparecem como personagens mais apagados, o mais relevante que vi foi a Chris em Playful Kiss. Ter um coreano que não tem aparência asiática é bem inovador, rompeu as barreiras culturais. 

Distrito Itaewon 

Itaewon é um distrito de Seul famoso pelos restaurantes, baladas, pubs e vida noturna. Como eu não conheço pessoalmente, na minha cabeça, eu imagino uma mistura entre Rua Augusta e Vila Madalena – quem é de São Paulo vai entender. 

Se você não é de São Paulo, tente imaginar algum bairro ou rua de sua cidade que seja o point da galera nos finais de semana. Aquele lugar onde os turistas são sempre bem-vindos, onde há sempre festas e baladas. É isso. 

Eu não sou baladeira, mas curto restaurantes e barzinhos temáticos. Depois de assistir a Itaewon Class, fiz uma pesquisa de preços de hotéis e hostels na região. Já escolhi onde vou ficar no dia que for em Seul (rsrs).

Empreendedorismo em Itaewon Class

Itaewon Class é uma verdadeira lição de empreendedorismo. Embora motivado pelo desejo de vingança, o personagem principal, Park, nos ensina muito sobre empreendedorismo. Eu, como uma boa estudante de marketing não poderia deixar de comentar sobre isso. No post O que Itaweon Class nos ensina sobre Empreendedorismo você pode ler algumas coisas que pontuei. 

Se você estiver com preguiçinha de ir lá conferir, vou resumir rapidamente. Primeiramente, ele tem missão visão e valores no negócio muito bem definidos – isso é a base de qualquer planejamento. Além disso, tem um objetivo claro e alcançável, embora muitos digam que ele é um sonhador. 

Outra coisa que notei é o posicionamento da marca. O Danbam é “o melhor bar”, enquanto a Jangga é “o número um”. Eles dão bastante ênfase nesse posicionamento, que vai ao encontro com o objetivo, missão, visão e valores. Aqui, já entra a questão da imagem da empresa, ou seja, como os consumidores a enxergam. Quando o Danbam ainda é uma empresa pequena, a gente não vê uma grande preocupação no início já que não há uma reputação, mas, por outro lado, o senhor Jang faz de tudo, de tudo mesmo, só para manter a imagem da empresa e não baixar o preço das ações. 

Para trabalhar a imagem e divulgar a empresa, vemos o uso do marketing de influência. Essa forma de trabalho é tão forte na série que existe uma conta no Instagram oficial do Danbam. 

Em relação à gestão e cultura da empresa, notei que o lema do Park, basicamente, é “foco nas pessoas”. Ele está sempre disposto e ensinar e aperfeiçoar os talentos de seus funcionários. Em vez de dar bronca, ele incentiva a dedicação, valoriza e retribui pelo esforço. 

Park também está sempre aberto a implementação de melhorias dos produtos, serviços e ambiente. Além de fazer um benchmark dos demais competidores, ele aprende com a experiência do cliente. 

Minhas impressões sobre Itaewon Class ficaram ligeiramente longas, mas é que a série é muito completa e eu não poderia deixar de falar sobre tudo o que me chamou atenção. Itaewon Class, com certeza, entrou no meu Top Five de séries (não apenas coreanas). 

Comente aí o que você gostou da série, se mudaria e se já leu o webtoon. 

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2 Comentários

  • 27 de dezembro de 2020 às 01:30
    Thifany Martins

    Aonde eu posso ler o webtoon??????????

    Responder

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